terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Reflexões à margem de um artigo


Recebi pela Internet cópia de um artigo publicado dia 24 deste mês em um de nossos principais matutinos. O autor é professor universitário e o tema por ele abordado é o do desencontro entre a comemoração do Natal e o estado em que se encontra a sociedade moderna, repleta de defeitos e injustiças que não sintonizam com a mensagem cristã.

O artigo lista vários fatos indiscutíveis; não há como negar as verdades registradas pelo professor. Entretanto, em que pesem essas veracidades, creio que seja possível, e mesmo necessário, fazermos algumas ressalvas. Vamos lá.

Comecemos lembrando certos pontos nucleares do ensinamento evangélico, em especial aquele contido nesta advertência do Cristo: " não vos preocupeis com o que haveis de comer ou beber. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça e o resto vos será dado em acréscimo". O comer e o beber inseridos nesta frase não devem ser lidos apenas com o seu sentido literal. Tais verbos estão ali representando todas as necessidades da criatura humana, incluindo entre elas as ligadas à nossas fome e sede de verdade, bondade e beleza.

Infelizmente, o autor do artigo ora comentado não fez nenhuma referência à origem histórica dos atuais problemas que ele - com muita razão - expôs. Não lembrou, por exemplo, o fato de ter havido na Europa, depois da queda do Império Romano, uma civilização que olhava a existência com olhos de criança, conforme escreveu o historiador judeu Egon Friedell em seu livro "A Cultural History of Modern Time". Uma civilização que ergueu as grandes e belas catedrais de pedra, que reconheceu a dignidade da mulher, que honrou o trabalho manual e criou a instituição da Universidade.

Teria sido muito bom se o professor tivesse dito que os atuais problemas do Ocidente moderno têm sua raíz mais profunda na época em que se apagou a grande luz do Medievo.

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