domingo, 9 de novembro de 2008

Reencontro com Bilac


Entro numa livraria grande e popular, repleta de “best-sellers”, obras de auto-ajuda, revistas e jornais, e de repente, ali na estante metálica giratória, quietinho, um pequeno livro (menos de cem páginas) com uma antologia poética de Olavo Bilac, o poeta cujo nome completo forma um verso alexandrino: Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac.

Injustamente esquecido, esse grande escritor brasileiro deixou-nos uma poesia marcada pela técnica, hoje desprezada, que opera sempre com o ritmo, com a métrica perfeita e com a rima, regras milenares criadas na remota época em que as pessoas gostavam de ouvir a música das palavras. Época em que era comum ouvirem-se, em silêncio, os relatos de viajantes cansados contando, à luz de uma lareira, fantásticas histórias de lugares e povos distantes.

Vou citar apenas três tercetos de alguns dos vários sonetos constantes daquela antologia, organizada por Paulo Hecker Filho e editada pela L&PM. O primeiro é o fecho do soneto XIII da série Via Láctea. Lembra-nos o necessário papel do amor na atividade do conhecimento.

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas!”

Abordando certa realidade essencial, muitas vezes despercebida, o segundo terceto é quase metafísico. Ele encerra o soneto A UM POETA.

Porque a Beleza irmã gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.

Finalmente, um terceto que pode ser lido como pungente homenagem aos idosos, vendo-os como árvores antigas e protetoras.
Lê-se no soneto: AS VELHAS ÁRVORES.

Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem.



Um comentário:

Rebeca disse...

que bela lembrança, professor! gostei muito de ter lido os versos do velho Bilac!
um grande abraço para o senhor!
rebeca