quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Um simples telefonema


É noite. De repente o telefone toca. Um amigo distante liga e conversa conosco sobre alguns assuntos, uns colhidos nas notícias destes últimos dias, outros ligados à rotina da vida que esse velho amigo vem levando em outra cidade, ou ainda fazendo a análise do comportamento de certo famoso personagem da televisão.Entretanto, toda essa conversa é como um acidente vinculado à substância da amizade.E é justamente a radiosa presença dessa substância que enche de alegria as duas almas que conversam.

Esses pequenos e banais acontecimentos que de vez em quando um ou mais de um anjo da Guarda monta, como se fosse uma peça de teatro, fazem-nos redescobrir a silenciosa maravilha da vida.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A acomodação


Nestes dois últimos dias lendo as notícias da televisão e da Internet, visitando o blog de Reinaldo Azevedo e observando vários fatos comuns, arrisco-me e escrever isto:

- existe mesmo uma generalizada perda de memória histórica no Ocidente. Esquecemo-nos do mistério cristão e acomodamo-nos com o mundo. O resto é conseqüência.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Bento e Paulo



Joseph Ratzinger ao ser eleito Papa adota o nome pontifício Bento.
Faz pouco tempo (junho deste ano) introduz na Igreja o Ano Paulino . Creio que estas duas decisões do Bispo de Roma têm um especial significado, sobre o qual deveríamos refletir demoradamente.

O nome Bento lembra-nos o desmoronar do altivo Império Romano e o silencioso início do luminoso Medievo, cuja luz iria brilhar durante cerca de mil anos. Ano Paulino evoca o milagroso crescimento da semente cristã fora da Palestina, milagre esse que teve como principal instrumento, nas mãos de Deus, a pregação do convertido na estrada de Damasco .

Estamos assistindo ao desmoronar da orgulhosa Civilização Ocidental Moderna, juntamente com a melancólica acomodação dos cristãos com o mundo. Está aí o terreno para os trabalhos de Bento e Paulo , entendidos tais nomes como a atividade de cada cristão que se disponha a viver corajosamente a sua fé.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A fundamental e permanente questão


Faz muitos anos um famoso escritor católico escreveu, em um de seus livros, que nós modernos estávamos como que “blindados por vinte séculos de história”, querendo dizer com isso que é muito comum não refletirmos sobre o fato crucial – e aqui este adjetivo toma um especial significado – que marca para nós ocidentais a contagem do tempo.

De fato, a fundamental e permanente questão que deveríamos leal e corajosamente fazer-nos todo dia é esta:
- quem é Jesus Cristo para mim?

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Da biografia de Chesterton


Lembro-me de ter lido, faz muito tempo, numa referência biográfica sobre Chesterton, que o famoso ensaísta inglês e sua esposa costumavam ser iludidos por empregados desonestos. Uma leitura apressada desse fato pode facilmente levar um leitor desatento a classificar o casal como um par de incríveis ingênuos. Entretanto, o que deveria ser ressaltado, na minha opinião, é a muito louvável ausência de preconcebida malícia nos donos da casa, e mais: tudo se passava como se houvesse neles um íntimo acordo sobre essa atitude. E este me parece o ponto principal do fato: uma comovente união na simplicidade.

domingo, 9 de novembro de 2008

Reencontro com Bilac


Entro numa livraria grande e popular, repleta de “best-sellers”, obras de auto-ajuda, revistas e jornais, e de repente, ali na estante metálica giratória, quietinho, um pequeno livro (menos de cem páginas) com uma antologia poética de Olavo Bilac, o poeta cujo nome completo forma um verso alexandrino: Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac.

Injustamente esquecido, esse grande escritor brasileiro deixou-nos uma poesia marcada pela técnica, hoje desprezada, que opera sempre com o ritmo, com a métrica perfeita e com a rima, regras milenares criadas na remota época em que as pessoas gostavam de ouvir a música das palavras. Época em que era comum ouvirem-se, em silêncio, os relatos de viajantes cansados contando, à luz de uma lareira, fantásticas histórias de lugares e povos distantes.

Vou citar apenas três tercetos de alguns dos vários sonetos constantes daquela antologia, organizada por Paulo Hecker Filho e editada pela L&PM. O primeiro é o fecho do soneto XIII da série Via Láctea. Lembra-nos o necessário papel do amor na atividade do conhecimento.

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas!”

Abordando certa realidade essencial, muitas vezes despercebida, o segundo terceto é quase metafísico. Ele encerra o soneto A UM POETA.

Porque a Beleza irmã gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.

Finalmente, um terceto que pode ser lido como pungente homenagem aos idosos, vendo-os como árvores antigas e protetoras.
Lê-se no soneto: AS VELHAS ÁRVORES.

Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem.



sábado, 8 de novembro de 2008

Lembrando E.F.Schumacher



Apesar de todos os recursos da ciência e da tecnologia, o mundo moderno vive em um estado de ansiedade como talvez nunca antes tenha ocorrido. Mesmo pessoas dotadas de boa estrutura psicológica dificilmente escapam dessa agitada “correria prá frente”. É muito difícil para um homem comum escapar à influência da envoltória cultural da época em que vive.

Neste momento trago a citação colhida em um livro traduzido no Brasil com o título “O negócio é ser pequeno”, no original: “Small is Beautiful”. Vejamos:
Nunca houve época, em qualquer sociedade de qualquer parte do mundo, sem seus sábios e seus mestres para contestarem o materialismo e pleitear uma ordem diferente de prioridades. As linguagens variaram, os símbolos diferem, mas a mensagem tem sido sempre a mesma: “Buscai primeiro o reino de Deus e todas estas coisas (as coisas materiais de que também se precisa) vos serão acrescentadas .”
Elas serão acrescentadas, é-nos dito, aqui na terra, onde necessitamos delas, não meramente em uma outra vida, além da nossa imaginação.


O autor do livro, E.F.Schumacher, famoso economista alemão que durante vinte anos foi dirigente do Plano Nacional do Carvão da Inglaterra, ao escrever o livro ora citado estava realmente preocupado com os rumos da economia no mundo moderno. Entretanto, suas proféticas palavras, mormente as que ele escreve no brilhante Epílogo da referida obra, valem para todas as nossas atividades.